Após os 5000 km da prova, os veículos voltaram para Portugal e nós tivemos oportunidade de dar duas voltas, ao volante e ao lado. Uma experiência memorável.
Após o regresso a Portugal das duas Renault 4L que participaram no mais longo e duro rali de automóveis clássicos do mundo – o East African Safari Classic Rally – a marca convidou alguns jornalistas da imprensa especializada para conduzirem, e serem conduzidos, um dos veículos do “Team Renault 4L 60th Anniversary – Portugal”.
O evento realizou-se nos arredores de Leiria num circuito de terra que procurava fazer uma recriação algo aproximada das picadas que a equipa portuguesa, constituída por Pedro Matos Chaves / Marco Barbosa e António Pinto dos Santos / Nuno Rodrigues dos Santos, teve de enfrentar para conseguir superar os cinco mil quilómetros da prova reservada a automóveis históricos de duas rodas motrizes, anteriores a 1986.
As duas Renault 4L que participaram nos nove dias daquele rali poucas alterações apresentavam relativamente às especificações dos veículos de série, com exceção dos reforços de carroçaria e de suspensão, assim como os equipamentos de segurança exigidos pela FIA (Federação Internacional do Automóvel).
Mecânica sem alterações
Assim, o motor a gasolina de 1108 cc desenvolve uma potência de 34 cv às 4000 rpm e permite alcançar uma velocidade máxima não superior a 120 km/h. A direção não assistida também era de origem, assim como a tradicional alavanca da caixa manual de quatro velocidades posicionada no painel de bordo (ao lado do volante) e acionada, de forma vertical, para a frente e para trás.
Após os nove dias demolidores nos 5000 quilómetros de picadas no Quénia, onde tudo podia a acontecer na estrada, as duas Renault 4L regressaram a Portugal. A equipa quis que os jornalistas experimentassem um “pouco” das sensações ao volante daquela prova e sublinhou que as duas viaturas estavam praticamente nas mesmas condições em que deixaram o contentor.
Estreia na 4L
Chegados ao circuito de terra perto de Leiria onde se realizou o evento encontrámos os mecânicos a fazer os últimos preparativos e afinações às duas Renault 4L. Depois lá formos entrando para dentro das viaturas, para cada um iniciar o seu turno de condução, tendo ao lado um dos navegadores da equipa, o Nuno Rodrigues da Silva ou o Marco Barbosa.
Para o autor destas linhas, que teve como primeiro automóvel um Renault 5 GTL, mas já com um “luxo” de uma caixa manual de cinco velocidades, esta foi a estreia ao volante da Renault 4L. O primeiro desafio é conseguir entrar porque exige alguma ginástica para conseguir passar pelos arcos de segurança exigidos pela FIA. O segundo desafio consiste na colocação dos cintos de segurança no banco de competição, mas com a ajuda de um dos mecânicos lá se resolve.
Seguidamente, o Nuno Rodrigues da Silva explica o modo de funcionamento da caixa de velocidades da Renault 4L, simples mas a carecer de habituação. Depois é carregar no acelerador, ligar a ignição, engrenar a primeira velocidade e depois arrancar para o percurso de terra que nos permitiria sentir um pouco das emoções ao volante durante a prova no Quénia.
Sensações ao volante
Sinónimo de robustez, resistência e simplicidade mecânica, a Renault 4L não teve dificuldades em progredir pelo duro piso de terra batida, com algumas curvas mais apertadas e valas que era recomendável contornar para não “estragar o material”. Rapidamente percebemos que a melhor forma de controlar a Renault 4L era com a direção e o acelerador, sendo de evitar ao máximo o recurso ao travão, pois sempre que isso acontecia havia a tendência para fugir de frente.
Apesar da adrenalina ao volante e da sensação de velocidade ser muita, mas quando se olhava para o ponteiro do velocímetro este marcava entre 30 a 40 km/h. O nosso navegador disse-nos que essa até era uma velocidade habitual durante a prova, especialmente em pisos que se assemelhavam a chapa ondulada, onde era necessário avançar com precaução para não deteriorar muito o material. “Num dos dias demoramos cerca de oito horas para fazer 40 quilómetros, tal a dureza o piso”, recorda o antigo navegador de Rui Madeira.
Quem sabe, sabe
Depois da condução foi a vez de ser conduzido. E ninguém melhor do que um profundo conhecedor da Renault 4L, António Pinto do Santos, que há mais de três décadas se notabilizou pelas participações em diversas provas do WRC e com um veículo deste modelo decorado com as cores do xisto da Aldeia Histórica do Piodão.
Sentados no lado do “pendura”, lá arrancou o nosso piloto. E quem sabe, sabe! Assim, lá nos foi explicando que a sua estratégia passa pela regularidade, mantendo um andamento sempre constante para chegar ao fim. Se existir alguma vala ou irregularidade mais acentuada, o melhor é evitar para evitar danificar o material. A tática deu os seus frutos porque este piloto tem conseguido chegar ao fim nas provas em que participa.
Aliás, a participação das Renault 4L dos portugueses no East African Safari Classic Rally foi sempre acompanhada com muito interesse pelo público. Na verdade, muita gente ficava até ao final de cada etapa para ver chegar os “loucos” dos portugueses da Renault 4L. A presença teve tanto impacto que a organização arranjou duas taças para a equipa lusitana.
Este rali pôs à prova a fiabilidade mecânica da Renault 4L, que conseguiu chegar ao fim, mesmo apesar de muitas peças estarem presas por arames ou abraçadeiras de plástico. Temos sérias dúvidas que modelos mais recentes e tecnologicamente mais avançados conseguissem repetir a proeza destas duas Renault 4L.
Noticias relacionadas