No início da década de 60, os dirigentes da Sachsenring (a marca que fabrica o modelo Trabant, daí o “S” no capot) começam a reflectir sobre uma evolução do Trabant P50, lançado em 1957. Nada de muito significativo: para eles, modernizar as linhas e o motor (desenvolvido ainda antes da guerra) será certamente suficiente para aguentar mais uns anos… que serão décadas.
A apresentação do Trabant P601 realiza-se em Março de 1964. A carroçaria continua a ser em fibra Duroplast e as suas linhas são sobretudo uma grande evolução do modelo anterior, o P60, que entretanto fora lançado em 1962. O motor também é familiar, trata-se do mesmo 2 cilindros 2 tempos, 594 cm3 de 23 cavalos, e que dispensa qualquer bomba de combustível, graças à colocação do depósito em posição mais alta em relação ao motor. Para quê uma bomba quando temos a gravidade? Já agora, também dispensa bomba de óleo (misturado no combustível), válvulas, radiador…
Estas características não são totalmente opções técnicas livremente escolhidas pelos engenheiros; é antes, um automóvel concebido com os meios possíveis, pois a opção pelo Duroplast e a redução ao máximo de peças mecânicas, devem-se muito à penúria de matéria prima (a começar pelo aço) que se faz sentir na então Alemanha de leste.
O Trabant corresponde, de certa forma, ao Volkswagen ocidental, o automóvel popular por excelência. Mas poucos alemães da então RDA podem adquirir um Trabant, uma vez que o preço é bastante elevado para o poder de compra. Os 1000 Ostmarks anunciados são na realidade o preço do veículo sem condições para circular (sem bancos, cintos de segurança, volante e mesmo rodas…), sendo que, acrescentando os “extras”, o preço final está mais próximo dos 8500 Ostmarks. E os interessados, dispostos a pagar esse preço, ainda têm de esperar cerca de 10, 15 anos ou mais, até poderem ir de férias no seu “Trabi”, nomeadamente, devido ao processo de fabrico Duroplast, particularmente demorado.
Apesar da carreira bastante prolongada, o Trabant não terá grandes evoluções. Em 1965 surgem a versão H com embraiagem Hycomat e a carrinha Universal. Em 1968, a mudança de carburador faz aumentar a potência para 26 cavalos, em 1974 moderniza-se o tablier, acabando mesmo por surgir uma versão mais “burguesa”, denominada “S de Luxe”, no final da década de 70. Uma versão 800 RS, com motor de 771 cm3 chega a ser construída para provas na Europa de leste, em 1986.
No dia 9 de Novembro de 1989, é a queda do muro de Berlim, marcando o fim de uma era e o início de outra. Os Scorpions cantam o “Wind of change”, que vai soprando na Alemanha e nos países situados para lá da cortina de ferro. O Trabant, com a sua concepção arcaica, não resiste a estes novos tempos. A Volkswagen ainda tenta dar uma ajuda através do motor 4 cilindros 1.1 do Polo, mas nada impede o fim do Trabant, demasiado associado ao regime derrubado.
Ironia da História, o Trabant, símbolo do comunismo, torna-se rapidamente um ícone recuperado pelo capitalismo. À semelhança do beijo entre Brejnev e Honecker (respectivamente dirigentes da URSS e da RDA), o Trabant inspira a cultura pop e a moda. É utilizado pelos U2 para promover o álbum Achtung Baby e até se torna estrela de cinema no filme Go Trabi go.
Hoje em dia, é considerado como um dos piores automóveis alguma vez produzidos. Esteticamente, tecnicamente e até historicamente, o Trabant pode ser considerado como um automóvel de má memória. Mas é precisamente o seu protagonismo na História e esse rótulo de “patinho feio” que fizeram dele um ícone bastante procurado.
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