Pelo caminho, em 1934, ainda ensaiou brevemente uma carreira de piloto de competição, mas a ascensão de Hitler ao poder fez-lhe ver que poderia estar ali a solução para concretizar os seus projectos. A aproximação ao partido nazi terá sido primordial para desbloquear todos os problemas que poderiam colocar-se para iniciar a produção de um carro anfíbio.
Foi remédio santo. Por volta de 1937 começou a produzir na sua pequena fábrica Trippel Werke GmbH, em Homburg, o SG6/38, uma viatura anfíbia com tração dianteira e motor Adler de 2 litros.
Com o começo da Segunda Guerra Mundial, a demanda pelos anfíbios aumentou exponencialmente e Trippel, que chegara a Obersturmbannfuhrer das SS e era assessor de Hitler, viu ali a sua grande oportunidade. Isto porque após a ocupação de França pelo exército alemão, as fábricas locais de aviões e veículos foram reactivadas para a produção de viaturas, aviões, motores e equipamentos para a máquina de guerra nazi.
Nesse processo, um bem informado Hans Trippel conseguiu que lhe fosse cedida a fábrica da Bugatti, transferindo para lá a actividade da Trippel Werke GmbH.
Não conheço todos os detalhes do processo que terá tido a Marinha alemã como mediadora. Já em Molsheim, Hans Trippel conseguiu que fossem devolvidas as máquinas que Ettore Bugatti tinha transferido para Bordeaux, numa vã tentativa de escapar à invasão alemã.Em breve sairiam 20 veículos anfíbios por mês da outrora orgulhosa fábrica da Bugatti, numa versão militar modificada com o auxílio de alguns dos engenheiros franceses da empresa. A versão “Bugatti” do SG6 possuía tracção integral e estava equipada com o motor de 2,5 litros do Opel Kapitan, produzido em Rüsselsheim.
Construíram-se na fábrica de Molsheim dois modelos dos “Bugatti” anfíbios de Trippel: o SG6/38 Pionier e o mais pequeno e moderno SG6/41, num total que se aproximaria das 1000 unidades.
SG era o acrónimo de “Schwimmfähiger Geländewagen” ou “veículo anfíbio todo-o-terreno” e seria produzido na fábrica da Bugatti até 1943, ano em que a racionalização dos meios de produção do Reich, planeada por Albert Speer, decidiu que o fabrico do SG6 deveria ser abandonado, dando lugar ao mais simples, barato e eficaz VW Typ 166 Swimmwagen, desenhado por Ferdinand Porsche e Erwin Kommenda.
Carregada de história e drama, a rara e fantástica foto colorida que aqui apresentamos mostra-nos um alinhamento de quatro Trippel SG6/38 no pátio da fábrica da Bugatti, em Molsheim. Em frente aos Trippel vemos também um operário e um engenheiro da Bugatti, certamente obrigados a posar junto aos carros anfíbios cujo fabrico lhes tinha sido imposto pelos nazis.
Devido aos tons que apresentavam na foto original a preto e branco, optei por pintar os três primeiros SG6 em Khakigrau (RAL 7008) – uma cor que já era usada em 1941 – em paralelo com o Dunkelgrau (RAL 7021) que se vê no último dos SG6/38, muito comum nas viaturas e carros de combate alemães nos primeiros anos do conflito.Com o final da guerra, e após ter sido ilibado da acusação de ter utilizado de mão-de-obra escrava para fabricar os SG6 e os posteriores Schwimmwagen, Hans Trippel – que era “designer” de profissão – iria colaborar com diversos construtores, sendo por exemplo o responsável pelas portas “aladas” que equipavam o belo Mercedes 300 SL.
Sempre bem relacionado, juntou-se a Harald Quandt, um dos herdeiros do Grupo BMW e, já na década de 60, conseguiu finalmente realizar seu sonho de construir um carro anfíbio civil utilizável.
Nascia assim o Amphicar 770, um bonito cabriolet anfíbio que sintetizava como nenhum outro veículo a alegria e o optimismo que se vivia nos países ocidentais no início dos anos 60.
Mas essa já é outra história…
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